Com cinco episódios, a quarta temporada mergulha em estratégias para enfrentar o racismo estrutural no mercado de trabalho e no ISP
A quarta temporada da websérie Caminhos pela Equidade Racial, realizada pela Fundação Tide Setubal por meio da Plataforma Alas e produzida pela Bonita Produções, chega com cinco episódios que mergulha em estratégias para enfrentar o racismo estrutural no mercado de trabalho e no investimento social privado (ISP).
Com apresentação da jornalista Adriana Couto e consultoria de Vinicius Archanjo, da Humano Capital Consultoria, a série reúne especialistas, lideranças empresariais e representantes de organizações sociais para discutir como empresas, universidades, fundações e institutos podem agir coletivamente pela equidade racial.
A nova temporada estreia em um contexto no qual 55,5% da população brasileira se autodeclara preta ou parda segundo dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, essa população ainda enfrenta barreiras históricas no acesso a oportunidades.
Dados do Infojobs (2022) revelam que 75% de profissionais negras e negros relatam o racismo como um dificultador de entrada no mercado de trabalho. Além disso, a edição 2023 da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) Contínua aponta que a taxa de desocupação é maior entre pessoas negras. A saber: 11,3% referia-se a pessoas pretas e 10,1% para pardas, contra 7,5% de brancas.
Uma websérie para inspirar ação
Caminhos pela Equidade Racial não é apenas um espaço de reflexão, mas um chamado à ação. A série está alinhada ao Programa Lideranças Negras e Oportunidades de Acesso da Fundação Tide Setubal, que busca ampliar a presença de pessoas negras em espaços de decisão. Viviane Soranso, coordenadora do programa, reforça a importância da Plataforma Alas, criada em 2023 para impulsionar trajetórias profissionais e educacionais de pessoas negras.
“A gente parte da ideia de elaborar um leque de compromissos pensando em políticas internas. Isso porque o comitê da Plataforma Alas entendeu que não basta apenas inserir pessoas negras nessas instituições. É importante que essas organizações pensem políticas internas para que essas pessoas permaneçam e permaneçam bem, que não sofram violência, discriminação ou racismo nesses espaços.”
Os cinco episódios da quarta temporada
Cada episódio da quarta temporada aborda um eixo estratégico para a equidade racial no trabalho e na filantropia:
Equidade Racial no Trabalho: direções a seguir
O primeiro episódio discute como empresas e organizações podem adotar políticas efetivas de diversidade. Patrícia Kunrath Silva, coordenadora de conhecimento do Grupos de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), destaca que 51% das organizações do ISP ainda não têm políticas de diversidade, enquanto 26% dos conselhos deliberativos contam com pessoas negras.
Já Scarlet Rodrigues, coordenadora de projeto do Instituto Ethos, aponta que 64,2% das empresas têm programas de inclusão para pessoas negras. No entanto, ainda há disparidade salarial: trabalhadores negros ganham 40,2% menos que brancos.
Vinicius Archanjo, especialista em diversidade e inclusão, ressalta a importância de envolver diferentes níveis hierárquicos. “Quando falamos de diversidade, equidade e inclusão, as lideranças começam a aderir mais quando entendem que essas ações geram retorno financeiro, retenção de talentos e reduzem a rotatividade.”
Conhecer para fazer: censo interno, diagnóstico e avaliação em prol de políticas organizacionais para equidade racial
O segundo capítulo aborda o censo como ferramenta de diagnóstico para políticas de equidade. Mirene Rodrigues, gerente de Desenvolvimento Organizacional da Fundação Tide Setubal, explica como a instituição mantém 55% de pessoas colaboradoras negras e 72% de origem periférica graças a metas claras.
Já Daniel da Silva Bento, diretor do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), alerta que 36% das empresas não realizam censos de diversidade. Essa dinâmica dificulta, desse modo, a criação de ações afirmativas eficazes.
Por isso, Vinicius alerta sobre o aspecto a seguir. “Muitas empresas têm baixa adesão ao censo. Será que estão criando um ambiente seguro para que as pessoas se sintam confortáveis em responder? Ou será que não acreditam que os dados serão transformados em ações?”
Contratação, estrutura organizacional e acolhimento : como qualificar o acesso da população negra ao mercado de trabalho?
O terceiro episódio debate como flexibilizar processos seletivos para incluir talentos negros. Natália Paiva, diretora executiva da Mover, exemplifica um ponto que passa pela exigência de fluência em idiomas estrangeiros.
“O inglês, por muito tempo, era pré-requisito para programas de trainee, mas apenas 1% da população brasileira é fluente. Quando retiramos essa barreira, a diversidade de pessoas aprovadas aumentou.”
Já Vinicius reforça a necessidade de “treinar equipes de recrutamento para entender a realidade das pessoas negras. Detalhes, como entrevistas por celular para quem não tem computador, fazem diferença.”
Ambiente seguro: enfrentamento ao racismo
O quarto episódio explora como criar espaços livres de discriminação. Alexandre Souza, gerente e líder de Supply em Logística da Leroy Merlin, compartilha que a empresa tem 27% de lideranças negras e políticas como canais de denúncia e formações obrigatórias em diversidade.
Neste episódio o consultor informa o seguinte: “65% das pessoas negras escondem traços de sua identidade no trabalho, como alisar o cabelo. Precisamos de políticas antidiscriminatórias claras e comitês diversos para avaliar casos de racismo.”
Ser ou parecer antirracista? Comunicação e posicionamento público sobre equidade racial
O último capítulo destaca a comunicação como ferramenta estratégica. Fernanda Nobre, gerente de comunicação da Fundação Tide Setubal, afirma que a comunicação da organização vai além de mostrar ações institucionais.
“Criamos plataformas para amplificar vozes periféricas e furar bolhas algorítmicas. Projetos como Ancestrais do Futuro e a própria websérie Caminhos pela Equidade existem para compartilhar experiências reais e inspirar mudanças. Na Plataforma Alas, entendemos que comunicar é parte estrutural da transformação racial, não apenas uma ferramenta de divulgação.”
E Vinicius Archanjo complementa: “Muitas empresas hesitam em se posicionar por medo de não estarem ‘prontas’, mas o silêncio perpetua desigualdades. O posicionamento público é um acelerador de mudanças.”
Um convite ao pacto coletivo
A mensagem final da temporada está posta: a equidade racial só avança com colaboração. Como resume Viviane Soranso: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo. A plataforma Alas quer transformar estruturas da sociedade brasileira, e sabemos que não podemos ir sozinhos.”
A quarta temporada da websérie Caminhos pela Equidade Racial está disponível no Enfrente, canal da Fundação Tide Setubal no YouTube, reforçando o compromisso com um futuro mais justo e inclusivo.
Por Daniel Ciasca