Por Amauri Eugênio Jr.
A construção de uma sociedade mais justa e igualitária passa pelo apoio à chegada de lideranças negras e trajetória periférica a espaços de poder e de decisão. Ao seguir essa lógica e fomentar a potência de pessoas com esse perfil, a Fundação Tide Setubal, por meio da segunda edição do Edital Traços, apoiará 71 pessoas nascidas e/ou moradoras de periferias ou contextos periféricos urbanos com envolvimento nas áreas de Política Institucional e Carreira Jurídica.
A edição atual da iniciativa, que faz parte da Plataforma Alas e é realizada em parceria com o Instituto Ibirapitanga, Open Society, Porticus América Latina e Instituto Galo da Manhã, as 27 lideranças atuantes na Carreira Jurídica e as 44 que fazem parte da Política Institucional receberão, cada uma, aporte de R$ 15 mil para investir em atividades formativas de diversas naturezas que contribuam com as suas respectivas trajetórias.
No total, 180 lideranças se inscreveram para a seleção, entre as quais 125 foram relativas ao eixo de Política Institucional e outros 55 para a categoria Carreira Jurídica.
Wagner da Silva (Guiné), coordenador de Fomento a Agentes e Causas da Fundação Tide Setubal, chama a atenção à potência do perfil dos inscritos, o que tornou o processo um grande desafio. “Esta curadoria ficou marcada pela forma como as trajetórias políticas e jurídicas estão voltadas para ações coletivas e para a intersecção de causas”, destaca.
Radiografia dos perfis
A pluralidade nos perfis das/os candidatas/os que participaram do Edital Traços é outro aspecto a ser levado em consideração. Entre elas, 112 eram mulheres (111 cis e uma trans), 62 a homens (61 cis e um trans), duas autodeclararam-se como pessoas não-binárias e outras quatro pessoas não informaram a identidade de gênero. Em âmbito racial, 156 pessoas inscritas eram pretas e 24, pardas. Vale dizer que, de acordo com a classificação estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a categoria racial negra é composta por pessoas pretas e pardas.
Já na esfera geográfica, a região Sudeste teve 93 lideranças, enquanto 49 inscrições vieram do Nordeste. O Sul foi representado por 16 lideranças, o Centro-Oeste contou com 13 pessoas envolvidas e, por fim, a região Norte teve nove pessoas inscritas no Edital Traços.
De acordo com Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, o número elevado de acessos à plataforma para inscrições no edital “demonstra a importância de apoios a lideranças negras no que se refere a oportunidades de recursos financeiros e de processos de fortalecimento e aprimoramento de competências e habilidades pessoais que revigoram e fortalecem atuações sociais, políticas e profissionais.”
Descomplicar é necessário
Um dos aspectos ressaltados durante a crise causada pela pandemia de Covid-19, que foi um dos pontos de análise do Censo Gife 2020, é a criação de mecanismos para desburocratizar os mecanismos para repasse de verba para lideranças apoiadas.
“Por meio do processo de curadoria e seleção desta edição, avançamos com a simplificação da seleção, a flexibilidade, mais autonomia e menos controle para as lideranças utilizarem os recursos financeiros. A aposta do Edital Traços é de que apoiar trajetórias individuais com maior conexão com movimentos de base também contribui com o fortalecimento da democracia”, completa Wágner Silva (Guiné), sobre o processo de curadoria e seleção do Edital Traços.
Traços de oportunidades
A relação das lideranças selecionadas podem ser conferidas na página do Edital Traços. Acompanhe também os demais projetos, ações e editais da Plataforma Alas em plataformaalas.org.br.