Caminhos e editais para apoiar a potência de lideranças negras

Por Amauri Eugênio Jr. / Reportagem publicada no site da Fundação Tide Setubal em 19 de novembro de 2020

A promoção da equidade passa pelo apoio e fomento para pessoas negras ocuparem espaços de poder e de decisão. Isso significa que a construção de uma sociedade mais justa está diretamente relacionada ao aumento de lideranças pretas e pardas no poder público, na esfera judiciária, na política, em empresas e na academia.

Com base nessa lógica, que tem ligação intrínseca com o trabalho da Fundação Tide Setubal no enfrentamento às desigualdades, foi criado o Edital Caminhos. O projeto, primeira ação do Fundo Alas (Apoio ao Desenvolvimento de Lideranças Negras) e conta com parceria do Instituto Ibirapitanga e da Porticus América Latina, visa ampliar a diversidade racial em espaços de influência e decisão na sociedade e contribuir com a promoção da justiça social.

A primeira edição, na qual serão selecionadas 30 lideranças negras que receberão aporte financeiro de até R$ 15 mil, teve inscrições abertas de 19 de outubro a 4 de novembro e mostrou números que impressionam – pela pluralidade de perfis e pela quantidade de pessoas interessadas.

De acordo com Viviane Soranso, coordenadora do Programa de Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, é necessário debater e enfrentar barreiras e históricas que impedem pessoas negras de chegar a espaços de poder e de decisão, além de o número expressivo de pessoas inscritas reforçar a importância de investimentos, como os que serão feitos por meio do edital, para aprimorar competências e habilidades delas. “É preciso atuar na ampliação de oportunidades para se construir uma sociedade justa e democrática. Diferentes representatividades devem ser um valor almejado e incentivado dentro e fora das instituições por meio do quadro de colaboradores, parceiros, público atendido e fornecedores. Demanda temos, mas o que falta é a inclusão.”

O que números revelam

Entre as(os) candidatas(os), 239 (64,2%) vieram do Sudeste e 72 (19,4%) do Nordeste. Ainda, 25 candidatas(os) (6,7%) são do Centro-Oeste; 22 (5,9%) do Sul; e o Norte abriga 14 (3,8%) das pessoas inscritas. No eixo temático, 192 das inscrições (52%) foram para a modalidade de ações sociais, culturais e/ou artísticas; 78 (21%) eram voltadas à política institucional; 76 (20%) abrangem o empreendedorismo; e 26 pessoas (7%) inscreveram-se para fazer especializações voltadas à carreira corporativa.

Outro ponto a ser levado em consideração diz respeito à diversidade de gêneros de quem se inscreveu: 68,74% das pessoas inscritas no edital eram mulheres, sendo 67,12% cisgêneros e 1,62% trans; 29,11%, homens cisgênero; 1,62% das inscrições foram feitas por pessoas não-binárias e 0,54% correspondia a candidatas(os) intersexo. Ainda, 39,78% de quem se inscreveu tinha entre 30 e 39 anos; 31,45% estavam na faixa etária dos 20 aos 29 anos e 28,76% das(os) candidatas(os) têm mais de 40 anos.

Para Wagner Silva (Guiné), coordenador de Fomento e apoio a agentes e causas da Fundação, as inscrições confirmaram que há uma demanda enorme represada de apoio ao fortalecimento de trajetórias da população negra. Isso torna-se evidente ao se considerar que mais de dois terços das candidatas corresponde a mulheres. “Tivemos 87,9% de pessoas que se autodeclaram pretas. Outro destaque é a diversidade regional, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, que juntas somaram 29% das candidaturas ao apoio. Todas essas informações apontam que estamos no caminho certo sobre a necessidade de apoios e benefícios que contribuam com o fortalecimento dessas trajetórias.”

A primeira fase já tem a escolha de cinquenta pessoas para a próxima etapa – a relação pode ser conferida neste link. As(os) trinta selecionadas(os) para receber o apoio do Edital Caminhos serão anunciadas(os) em 16 de dezembro.

Acompanhe novidades e atualizações sobre o Edital Caminhos no site da Fundação Tide Setubal e nas redes sociais: FacebookInstagramLinkedIn Enfrente, canal da Fundação no YouTube.

Premiar e incentivar pesquisadoras(es) negras(os)

A Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) desenvolveu, em parceria com o Nexo Políticas Públicas e o Instituto Ibirapitanga, o Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos Sobre Raça e Política. A iniciativa tem como objetivo incentivar a conclusão de trabalhos sobre desigualdades, identidades, discriminações raciais e as suas expressões políticas. Confira neste link mais informações sobre a iniciativa, que conta com apoio da Fundação Tide Setubal e da Open Society Foundations.